"Tudo começou pelo olhar. Foi nos meus olhos que o amor começou...Eu só tinha aquilo que meus olhos ofereciam: uma imagem. Imagens são criaturas de luz. Foi isto que meus olhos viram, foi isto que amei..." [Rubem Alves]

quarta-feira, 26 de março de 2008

Co_lo_rin_do!

Vida dura esta da cidade grande...muita correria...o tempo, pouco tempo para muita coisa.
Para ela não seria diferente, mesmo adorando o que faz, o problema é que as coisas já não faziam muito sentido para o que sentia...
Se colocou a pensar...estava em busca de valores mais profundos e dentro do sufoco do dia-a-dia, não estava mais conseguindo atingir este seu objetivo...as coisas...as pessoas...lhe pareciam muito superficiais e a deixavam triste.
Tomou uma atitude que a tempos não tomava, inesperada, deixando todo o resto para trás...pegou a mochila e tomou um rumo estrada a fora...iria dar mais colorido para a sua vida...
Levou duas horas e quinze minutos para sair da cidade grande, isso significou...muito transito, muito sol, muito calor e muita poluição...até que conseguiu pegar a estrada, ela não sabia o que viria pela frente, mas estava determinada a dar mais cores para aqueles dias...
No primeiro momento, olhou a paisagem que se apresentava completamente verde...depois foi percebendo os tons de verdes diferentes...a medida que avançava mais na estrada, iam aparecendo tons de amarelos, brancos e azuis...quando fez uma curva bem acentuada, conseguiu visualizar uma plantação de girasois...simplesmente linda...estava se sentindo em uma tela de Van Gogh como no filme sonhos de Akira Kurosawa, era a pintura mais realista que já tinha visto...e se imaginou correndo entre os girasois levando uma tela de baixo do braço para ser colorida...
Então prosseguiu...
No rádio do carro tocava Elton John, que lhe fazia compania e ajudava ela ilustrar aqueles momentos...
Havia muitas nuvens se formando no céu, estavam sendo generosas com ela cobrindo parcialmente o sol que fervia sobre a pista...mirando bem a diante, estas nuvens se transformavam em vários tipos de bichos, alguns de bocão bem abertos, pena que logo se diluíam...neste mesmo momento, observou uma revoada de pássaros bem no meio da estrada e mais uma vez sua imaginação a levou para bem longe...lá estava ela voando junto com os pássaros...o mais alto que podia...mas gotas de chuvas a trouxeram para o chão... e sem exitar, parou o carro no acostamento, tirou os sapatos e as meias, ergueu as barras da calça e pisou na grama gelada que lhe refrescava os pés...caminhou um pouco e parou...ergueu a cabeça...sentiu ser acariciada pelas gotas da chuva e pelo sol que também estava ali...ficou olhando o céu azul entre as nuvens que pareciam algodão...sorriu!
Depois, olhou para frente e lá longe, do outro lado da estrada, viu uma casinha branca com janelas e porta azuis, completamente isolada no meio de tanto verde e em segundos sua imaginação a levou para lá...desta vez, levou pincéis e cavalete para colocar a sua tela e começar a pintar...se viu sentada dentro da casa com as janelas e porta abertas, a luz do dia ainda alcançava seu rosto e ela pode desenhar sua visão...grandes olhos negros...
Retomando a realidade, agradeceu aquele momento tão especial...e prosseguiu colocando a tela já iniciada no banco do passageiro...
Em cada cidadezinha que passava, as cores iam tomando tudo e todos...o sorriso, a simplicidade, os gestos das pessoas...tudo ajudava as cores ficarem cada vez mais vivas...até que avistou o exército da salvação...muitos e muitos eucalíptos, todos grudadinhos...uma a um...era como se estivessem de mãos dadas equilibrando o oxigênio que entrava em seus pulmões...e mais uma vez se viu sentada entre eles, completando aquela aquarela...o desenho ia tomando forma...já tinha olhos, nariz e boca...só estava faltando a forma daquele rosto...
Despertou...e naquele instante viu que já tinha passado a entrada do seu destino, teve que achar um retorno para voltar e foi nesse momento que viu um arco-íres que passava de um lado da estrada para o outro...se colocou subindo este arco-íres com o carro e lá no topo, deu forma ao rosto de sua aquarela...
Voltando...
Pegou a entrada certa na estrada e continuou a sua jornada feliz da vida...nem se dava conta do que estava acontecendo ali...as cores não lhe davam mais tréguas...estavam por todas as partes...invadiram tudo...
A chuva partiu, o céu se abriu e o sol estava novamente ali, mas já estava fraquinho com o cair da tarde...um entardecer bem modesto e brilhante...
Então percebeu que a viagem que deveria ter uma duração de duas horas e meia, já estava em cinco horas...se atentou ao significado do tempo naquele momento...e chegou ao seu destino.
Mais a noitinha, sentada na sala da casa grande, comendo um pedaço de batata doce, debruçada sobre a mesa, olhou pela janela e viu a lua que banhava com seu brilho prateado a represa que ficava bem em frente da casa...pensou que estava só naquele momento de intimidade total com a noite e se virando para a parede, lá estava ela...a tela aquarelada...com aquele rosto finalizado...de um homem iluminado pela luz do luar que entrava pela janela...rosto comprido com olhos grandes e negros que olhavam para ela com a mesma alegria dela...ele podia compartilhar daquele momento especial dela...e ela...
Ela sorriu para aqueles olhos...os mesmos olhos que carrega consigo todos os dias...
*-*

2 comentários:

Anônimo disse...

Texto muito bom!
Só preciso descobrir quem é que causa esse lirismo todo em vc.
Alguém especial?
Não esqueça dos amigos.
Vc já faz arte agora escreve, assim vc vai ficar insuportável... kkkkk
Mande e-mails e responda aos que eu mando.

Cmoon... disse...

Mauro: quanto ao elogio, muito obrigada!
Deixe de ser curioso...é feio...rs
Eu já sou insuportável...rs
Demoro para responder as mensagens, porque vejo pouco meus e-mails mas respondo a todos.
Grande beijo!
*-*