"Tudo começou pelo olhar. Foi nos meus olhos que o amor começou...Eu só tinha aquilo que meus olhos ofereciam: uma imagem. Imagens são criaturas de luz. Foi isto que meus olhos viram, foi isto que amei..." [Rubem Alves]

terça-feira, 27 de novembro de 2007

"O Banquete"

Falava-se sobre o amor. Cada um dos presentes apresentou o seu discurso sobre o tema. Por último, falou Sócrates. Para ele, o amor é "o impulso apaixonado de uma alma para a Sabedoria e esta é ao mesmo tempo conhecimento e virtude."
Ouvem-se pancadas fortes à porta e logo a voz de Alcibíades se escuta saudando os presentes.
Discípulo de Sócrates, dono de rara beleza, Alcibíades obteve grandes glórias militares em Atenas, mas viria a morrer assassinado pelo ódio e pela paixão política dos inimigos.
Alcibíades tomou a palavra, não só para ressaltar a pureza e a grandeza moral de Sócrates, mas também algumas peculiaridades de sua personalidade que intrigavam a muitas pessoas. O discurso de Alcibíades é um retrato admirável de Sócrates.
Narrou Alcibíades cenas passadas na guerra de Potidéia, em que combatera aos 19 anos. Nessa ocasião, teve a vida salva por Sócrates, que ao vê-lo cair ferido, foi em seu socorro, afastando com a espada os inimigos à sua volta.
Segundo Alcibíades, ninguém suportava melhor que Sócrates as fadigas e a falta de alimento, durante os tempos difíceis da guerra:
"Quando, no rigor do inverno, todos ficavam em casa ou se enrolavam em mantos, protegendo com peles os pés, Sócrates saía com seu traje habitual e, sem dificuldade, andava descalço sobre o gelo.
Certa vez, pôs-se a meditar desde a madrugada e, como não encontrasse a solução para o que buscava, deixou-se ficar, imóvel, de pé, completamente absorto, em reflexão. Chegou o meio-dia e os soldados observaram, espantados, que Sócrates desde a madrugada não saíra daquela posição, sempre a pensar. Caiu a noite e como era verão, muitos estenderam suas esteiras ao relento para observar quanto tempo mais Sócrates ficaria ali, parado. Pois ele ficou toda a noite, até a aurora do novo dia, imóvel. Ao nascer do sol, fez sua prece ao deus Hélio e se foi."
Terminado o banquete, em que muito se consumiu de comida e bebida, conta Platão que alguns se retiraram e outros, vencidos pelo sono e pelos excessos, jaziam dormindo profundamente.
Sócrates, continuava a conversar com dois ou três, e assim ficou até raiar o dia. Os ouvintes também terminaram por adormecer e Sócrates, levantou-se, então, e retirou-se, acompanhado por Aristodemo, que acabara de acordar. Banhou-se e dirigiu-se diretamente para o Liceu, iniciando suas tarefas diárias e dedicando-se a elas até o anoitecer, quando foi para casa repousar.

Na filosofia, o livro mais famoso sobre o amor é "O Banquete" de Platão (428/27 – 347 a.C.). Trata-se de um banquete durante o qual alguns antigos atenienses tentam explicar porque o amor exerce tanto poder sobre nós. Um dos convidados, Aristófanes, lembra que, quando amamos uma pessoa, ela nos parece familiar, como se já a conhecêssemos antes, talvez numa vida pregressa ou em nossos sonhos. Segundo ele, a pessoa amada é nossa "outra metade" há muito perdida, a cujo corpo estávamos originalmente ligados. Todos os seres humanos foram criados como hermafroditas, com costas e flancos duplos, quatro mãos e quatro pernas e dois rostos virados em direções opostas na mesma cabeça. Esses hermafroditas eram tão poderosos, seu orgulho tão devastador, que Zeus foi forçado a cortá-los em dois, numa metade masculina e outra feminina e desde esse dia todos almejam se reunir a metade de que foram separados.

Sócrates (outro convidado), expôs uma teoria que ficaria conhecida como "amor platônico". Quando somos jovens e ignorantes em filosofia, tendemos a nos apaixonar por pessoas fisicamente atraentes, com quem queremos dividir a cama. Infelizmente, essa não é uma forma muito pura ou nobre para Sócrates, embora com o devido aconselhamento possamos chegar a ver que a beleza específica de um corpo é somente um exemplo da beleza dos corpos em geral. Quando nos damos conta disso, nossa fixação maníaca por um corpo em particular diminui e passamos a amar a beleza onde quer que ela se encontre. É a partir daí que passamos a apreciar a beleza da ciência e a da filosofia, chegando por fim a apreciar a beleza da beleza. Para Sócrates, o amor começa com a paixão por um corpo atraente e termina no amor pela beleza absoluta. Com relação ao sexo, o desejo sexual não é irrelevante para o amor, mas é uma versão de qualidade inferior do amor sublime que descobrimos quando abandonamos nossos desejos físicos - uma visão que encontrou abrigo nos pensadores do cristianismo primitivo e que explica os tradicionais problemas do Ocidente com o corpo.

Shopenhauer (1788 – 1860) "o sentimento amoroso radica exclusivamente no impulso sexual". O amor é apenas um nome inventado que damos a um impulso de reprodução da espécie. " (O amante) imagina que se esforça e se sacrifica por seu próprio prazer, mas tudo que faz, na verdade, é guiado pela reprodução da espécie". Para ele, "(o amor) é digno da profunda seriedade com que todos o buscam; ele decide nada mesmo do que o substrato da nova geração". Em sua obra máxima, "O Mundo com Vontade e Representação", Shopenhauer explica por que o amor é um tema eterno: ("O amor" é o objetivo último de quase toda a preocupação humana; é por isso que ele influencia nos assuntos mais relevantes, interrompe as tarefas mais sérias e por vezes desorienta as cabeças mais geniais. Ele não hesita em interferir nas negociações dos homens de Estado e nas investigações dos sábios. Ele sabe como insinuar seus bilhetes de amor e seus anéis de cabelo nas pastas ministeriais e nos manuscritos filosóficos".

Nietzsche (1844 – 1900) "o amor é o ódio mortal dos sexos", porque "o homem quer o poder incondicional sobre a alma e o corpo da mulher". Além disso, achava que "a vontade de reinar é a marca dos homens mais sensuais". A seu ver, as mulheres desejam apenas "pertencer" a um homem viril. "O que uma mulher entende por amor é uma dádiva total do corpo e da alma, sem reservas".Ele não é o único que tem essa visão sombria.

Jean–Paul Sartre (1905 – 80) dizia que o amor é um "ideal irrealizável". E isso porque queremos algo impossível das pessoas que amamos: somos atraídos pela liberdade e independência que detectamos nelas. E, no entanto, ficamos tão apavorados que tentamos privá-las desses atributos quando estabelecemos uma relação amorosa. "O amante quer ser amado pela liberdade, mas exige que essa liberdade, como liberdade, não seja mais livre".

Immanuel Kant (1724 – 1804) não achava que os amantes fossem sempre morais. Ele distingue o amor "prático" do amor "patológico". O amor prático seria uma disposição racional de agir de modo benévolo com quem precisa, independentemente de qualquer relação que possamos ter com eles. Amor patológico, por sua vez, é uma inclinação para ajudar a quem amamos, por razões bastante irracionais, porque as desejamos sexualmente. Atos de amor patológico provêm de paixões volúveis e não de uma apreciação racional do que seja certo fazer. É por isso que eles carecem, segundo Kant, da dignidade ética que possuem os atos de amor.

Aristóteles tinha uma visão mais amena pois nunca escreveu especificamente sobre o amor, mas sobre a amizade. Ele achava que uma boa amizade, na qual duas pessoas se unem no amor pela verdade, era o que podia haver de melhor.

E você, o que acha? .

2 comentários:

Anônimo disse...

O banquete deve ter sido bom, a comida pelo menos, muita conversa que não levou a lugar nenhum. Devo dizer que é assim que vejo o amor entre duas pessoas, não leva a lugar nenhum.

Cmoon... disse...

Caro(a)...não sei qual é a sua desilusão com o amor, mas mesmo não levando a lugar algum, o amor não deixa de ser amor, se é que me entende...*-*
Valeu a visita, volte sempre!