"Tudo começou pelo olhar. Foi nos meus olhos que o amor começou...Eu só tinha aquilo que meus olhos ofereciam: uma imagem. Imagens são criaturas de luz. Foi isto que meus olhos viram, foi isto que amei..." [Rubem Alves]

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

MARCAS DE FALA NA ESCRITA

Interessante este texto sobre a "fala na escrita", encontrei em um dos meus giros por ai.

Fátima Beatriz de Benedictis Delphino - Doutoranda no programa de Lingüística Aplicada ao Ensino.

Este trabalho pretende apresentar uma amostra de utilização de recursos orais na escrita em editoriais de jornais e em textos clássicos da literatura brasileira. Embora saibamos que a escrita seja sempre mais formal, utilizando recursos que obedeçam mais estritamente às normas ditadas pela gramática tradicional, com freqüência utiliza-se de recursos geralmente associados à linguagem oral, com a intenção de tornar-se mais persuasiva e aproximar-se mais do leitor. Essa intenção de criar mais intimidade é que vai determinar um grau maior ou menor de oralidade na escrita, mesmo em gêneros considerados mais próximos da língua culta.

Sabemos que a modalidade língua escrita sempre ocupou status mais elevado do que a modalidade língua oral entre gramáticos e estudiosos da língua portuguesa. Nos últimos anos, no entanto, sociolingüistas e analistas do discurso vêm se dedicando ao estudo da língua oral e sua interferência na escrita.

Alguns estudos, visando a uma gramática da fala já começam a surgir. As diferenças formais entre a fala e a escrita são o gênero e o registro do texto. Estes possibilitam muitas vezes uma mistura das características próprias de cada uma das modalidades.

A língua coloquial é repleta de metáforas e que a transposição das metáforas do dia a dia para a linguagem literária carrega consigo uma carga de oralidade.

Independente do gênero, sempre que o autor tiver como objetivo básico, convencer, persuadir oleitor, ele pode usar como recursos algumas estratégias consideradas como típicas de língua oral, modificando a forma canônica da escrita, assumindo por vezes um tom dialógico, conversacional e até confessional, por vezes incluindo inesperadamente uma narração em 1ª pessoa, fugindo do esquema fala/menos formal, escrita/mais formal (formal no sentido de mais próximo da Gramática Tradicional).

Dentro da situação de comunicação, situações típicas de oralidade como imediatez da mensagem, presença real do destinatário, proximidade da resposta, possibilidade de mudança imediata, espontaneidade, dialogismo, e situações típicas de escrita como virtualidade do receptor, ausência de resposta, impossibilidade de mudança imediata, elaboração e construção. Em resumo, a situação oral da linguagem caracteriza-se por ser na situação enquanto que na escrita a linguagem é usada fora da situação.

A fala e a escrita apresentam diferenças retóricas e conceituais, parece que a percepção do escritor em relação à sua audiência (mais formal / menos formal) é que determina as diferenças sintáticas formais das sentenças e sua estruturação em textos. Jornais e revistas que trazem informação como lazer (Scientific American e The New Scientist), em geral apresentam cadeias seqüenciais de sentenças, em contraponto, jornais e revistas que trazem informação científica apresentam sentenças complexas encaixadas (Science e Evolution ).

Marcas de oralidade no texto escrito:

  1. O estilo dialógico e o uso de parênteses como recurso deste estilo;
  2. A presença de construções sintáticas menos complexas, com poucas orações subordinadas (cadeias seqüenciais e não encaixadas);
  3. A presença de metáforas e outras figuras de linguagem de uso popular.

O objetivo deste trabalho foi apresentar uma pequena amostra de marcas de oralidade no português escrito do Brasil. Longe de contribuir para uma pretensa "deterioração sintática" da língua escrita, as marcas de oralidade a tornam mais viva e revigorada pela língua falada que é efetivamente a língua em uso em contraponto com a escrita, normalmente "amarrada" a convenções muitas vezes ultrapassadas da gramática tradicional.

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