Caminhando dia a dentro, mal vejo o poeta e seus textos...vejo algumas vezes o seu sussurro que não entendo...a fala sem o som das palavras...um passar de lá pra cá...e o som do seu riso...
Mas ouço atenta, para suprir o que pouco vejo, aquelas em que escreve com tanto talento suas próprias experiências...seus momentos...sua ficção...e o vejo mais perto do que nunca...
Sigo em frente...buscando a poesia que coloca minha vida em sonho...e sonho com o poeta...
E sonhando, vejo novamente a amiga Clarice Lispector, que me da alegria...em "Precisa-se".
"PRECISA-SE"
Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la. Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais. Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama. Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar. P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilarecerar os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar.
Clarice Lispector
sexta-feira, 4 de abril de 2008
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